O exercício do prazer
Fortalecer os músculos da vagina para aumentar o prazer durante o sexo é uma prática milenar. Nasceu na Índia, foi aperfeiçoada no Japão e na Tailândia, ganhou o nome de pompoarismo e agora conquista centenas de adeptas no Brasil.
Laura Muller
Utilizar as ben-wa não é tarefa das mais fáceis.Claro que ninguém consegue na primeira tentativa. Requer semanas de treino e muita paciência. Às vezes, antes, é preciso enrijecer a musculatura com movimentos mais simples, que incluem o uso dos dedos, de um vibrador ou de pesinhos que se parecem com um absorvente interno. Mas esse esforço compensa. "Minha vida sexual mudou. Tive sensações deliciosas, que nunca havia experimentado", conta a empresária Mari Rocha Lima, 42 anos, de Guarulhos (SP). Ela participou de um curso de ginástica sexual em busca de mais prazer. "Só quando você trabalha essa musculatura percebe o poder que pode ter na cama", revela.
Para chegar ao alcance de Mari, a técnica percorreu um longo caminho pelo Oriente. Os primeiros exercícios surgiram na Índia, com o tantra, doutrina milenar que encara o sexo como uma forma divina de atingir a plenitude. Bem mais tarde, no início do século XX, gueixas japonesas e prostitutas tailandesas se apoderaram desse conhecimento para massagear o pênis de amantes e clientes com a parte interna da vulva. Treinavam com as contas de seus colares, a primeira versão das atuais ben-wa. A arte ficaria conhecida como "pompoar", que significa sugar o pênis. As tailandesas foram ainda mais longe que as japonesas. Começaram a lucrar com exibições em que fumavam cigarros com a vagina e arremessavam pequenos objetos. Em 1976, esse tipo de proeza ganhou as telas dos cinemas. A cena em que um ovo era sugado e depois expelido foi a mais comentada do filme O Império dos Sentidos, um clássico erótico. A façanha reapareceria, em 1994, na comédia Priscilla, A Rainha do Deserto, em que uma mulher atira uma bolinha de pingue-pongue na platéia durante um espetáculo erótico.
O pompoarismo chegou ao Brasil em meados da década de 70, mas até pouco tempo atrás ficou restrito aos circuitos de pornografia. Uma das formas de conhecê-lo era entrar em contato com o Velho Mestre, um homem de meia-idade que usava esse codinome para anunciar aulas particulares em jornais. Mas ele só ensinava jovens. E na prática: marcava o encontro num motel, manipulava os objetos na aluna e, no final, transavam "se ela quisesse". Faz mais ou menos um ano que seus anúncios desapareceram dos jornais. "A esposa e a filha descobriram e o pressionaram a parar", conta o antropólogo Mauro Cherobim, que conheceu o Velho Mestre quando elaborava um estudo sobre pornografia no Estado de São Paulo. Hoje a história é bem diferente. Quem se propõe a ensinar não toca em ninguém, fornece apostilas e reúne até cinqüenta pessoas em auditórios ou salões de eventos transformados em salas de aula. Duas das professoras mais conhecidas são a ginecologista Glene Rodrigues Faria, do ambulatório de sexualidade do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, e Stella Alves, uma ex-aluna do Velho Mestre que afirma ter aprendido tudo "por correspondência". "As pessoas têm gostado tanto que em Brasília dei aula para 200 mulheres num final de semana", diz Stella.
Nos consultórios, ensina-se uma ginástica muito semelhante ao pompoarismo, baseada na técnica do ginecologista americano Arnold Kegel. Nos anos 50, ele recomendava às pacientes que contraíssem e relaxassem os músculos vaginais 500 vezes por dia. A quantidade de repetições era um exagero, como se comprovou mais tarde, mas os exercícios surtem resultados positivos: previnem e tratam problemas como flacidez pós-parto e incontinência urinária. Hoje, sabe-se que os exercícios de Kegel aliados à psicoterapia podem auxiliar no tratamento de vaginismo, distúrbio sexual em que a vagina permanece contraída durante a penetração provocando dor. "Só faz bem. A mulher cuida da saúde e passa a se conhecer melhor", afirma a terapeuta Maria do Carmo de Andrade Silva, coordenadora de mestrado em Sexologia da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. "Muita gente nem percebe a existência de alguns músculos na região pélvica, mas descobre que pode ter sensações muito prazerosas se movimentá-la." Segundo os especialistas, com treino é possível aprender movimentos que se assemelham às contrações que ocorrem de forma involuntária durante o orgasmo. O segredo é começar cedo. "A região pélvica sofre alterações a partir dos 25 anos. Precisa ser fortalecida para se manter saudável e sensível", diz Maria do Carmo. Mas o ginecologista Gerson Lopes, do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, alerta: o pompoarismo não faz milagre para quem tem inibições emocionais que interferem na cama. "Sexo está mais na cabeça do que no corpo", afirma. Ou seja: se o emocional vai bem, a ginástica pode ser uma dose extra de prazer. Caso contrário, não faz efeito.
Se você tiver dificuldade para localizar os músculos que vai exercitar, um bom truque é tentar parar o fluxo de urina e depois retomá-lo por duas ou três vezes seguidas. Procure manter as
coxas bem afastadas. Os músculos que você movimentar são os que terá de trabalhar. Eles fazem parte do grupo dos pubococcígeos e vão do osso pélvico (na frente de seu corpo) até o cóccix.
Variação: contraia e relaxe os músculos rapidamente. Para acertar o ritmo, imagine que acompanha uma respiração.
Variação: tente sugar o dedo com a vagina. Conte até três antes de relaxar.
Variação: Na posição inicial, contraia o ânus em três tempos, sem relaxar: primeiro levemente. Em seguida mais forte e depois com toda a intensidade que conseguir. Fique assim e contraia a vagina como se sugasse alguma coisa com ela. Conte até três e solte os músculos devagar: Primeiro os da vagina, depois os do ânus.
Variação: Faça um movimento contínuo e circular, como se usasse um bambolê, só que em quatro tempos:
1-) Mova a pélvis para cima e para frente;
2-) Leve o quadril para a esquerda;
3-) Jogue o bumbum para trás;
4-) Leve o quadril para direita.
Para fortalecer a musculatura interna da vagina. De PVC, pesam de 20 a 70 gramas e são vendidos em Clínicas de Ginecologia. (240 reais).
Exercícios - Introduza o mais leve como se fosse um absorvente interno. Mantenha-o por 15 minutos. Nas semanas seguintes, tente usar o de 30 gramas e aumente o peso até chegar ao de 70 gramas.
Detalhe importante: esse é o único exercício que requer acompanhamento médico para evitar que a mulher prejudique a musculatura caso aumente o peso antes do momento certo.
Exercício: Coloque uma bolinha na vagina e tente sugar a outra com os músculos. Nas primeiras vezes, você pode empurrá-la com os dedos. Procure expeli-las. No começo puxe o cordão para ajudar.
Exercícios: Introduza a ponta do vibrador na vagina e aperte-o com o começo do canal. Depois coloque-o mais para dentro e aperte-o com a parte do meio da vagina. Faça o mesmo com o canal todo. Outro movimento: coloque a ponta do vibrador na vagina e tente sugá-lo. Em seguida, procure expeli-lo.